Protagonismo Negro em São Paulo, obra de Petrônio Domingues, publicado pela Edições Sesc, aborda com profundidade a real necessidade de se falar sobre o papel do homem negro – ou como é bem salientado no livro – o “homem de cor”, na sociedade brasileira, especificamente na maior metrópole do país que mais recebeu escravos desde a chegada dos navios negreiros trazidos pelos europeus em forma de mercadoria. Quinhentos anos depois a realidade mudou, todavia tem muito o que fazer e o que falar sobre a importância do movimento negro na sociedade paulistana, no brasil e no mundo.

Em uma abordagem profunda onde esmiuçou a história, o historiador Petrônio Domingues traz uma importante contribuição para a sociedade, demonstrando os equívocos da visão de que, após 1888, os negros passaram a viver em condição de anomia – estado de desorganização pessoal que resulta numa individualidade desorientada, desvinculada do padrão do grupo social.

“A escravidão reduzia o escravo à condição social de coisa, conferindo aos senhores a possibilidade de racionalizar a própria conduta espoliativa através dos argumentos que, no fundo, equiparavam a energia humana do trabalho à força animal.”

Permeando a análise crítica em estudos e pesquisas sobre o tema, Petrônio revela como os negros – mulheres e homens – lutaram arduamente para manter suas vidas em linha reta, enfrentando assustadoramente o cruel destino, desenvolveram através das provações da vida, quebrando paradigmas e criando atitudes e formas de burlar o sistema imposto pelos brancos e suas visões dominantes e pragmáticas. Com isso protagonizaram projetos de liberdade e cidadania, desempenharam papéis singulares e de destacaram ante o homem impostor. Por fim, procuraram exercer sua capacidade de autodeterminação e conquistando seu espaço na sociedade paulistana.

A obra de Petrônio Domingues, abre panorama sobre o protagonismo negro em São Paulo durante o século XX, divido sem três capítulos, onde no primeiro refuta a tese da anomia social da população negra, que até a década de 1970 permeou as principais pesquisas sobre o período pós-abolição. O segundo capítulo analisa a raça e classe no mundo do trabalho; os “homens de cor” nas instituições políticas; ativistas e intelectuais negros nas associações e nos jornais; os clubes e bailes black; e as irmandades dos “homens pretos”. Encerra o terceiro e último capítulo apresentando as tendências historiográficas no estudo das populações negras de São Paulo, analisando biografias das “pessoas de cor”.

Domingues reafirma nas considerações finais, que os pesquisadores brancos identificavam como “anomia” dos negros paulistas era, na verdade, uma “visão alternativa da vida, balizada na busca da autonomia”. E como encerrou no desfecho, existe muito material a ser pesquisado e divulgado desde a abolição da escravatura e, somente com autores que queiram se dedicar a este assunto de forma tão intensa, conseguirá apresentar algo da magnitude equiparada à Protagonismo negro em São Paulo.

 

 

SINOPSE:

Neste livro, o historiador Petrônio Domingues procura mapear o protagonismo negro paulista no século XX e fazer um balanço dessa produção histórica. São diversos elementos de análise: biografias, vida associativa, ações políticas, agenciamentos sociais, práticas culturais, relações de gênero, conexões afrodiaspóricas, concepções ideológicas, invenções identitárias e narrativas.

Trata-se aqui de um panorama do período pós-abolição, quando, segundo o autor, “já não havia mais escravizados nem senhores, e lugares e hierarquias sociais edificados durante séculos se desmancharam”.

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