O Livro dos Negros se passa em 1745 em uma África onde os conceitos de escravidão estão aquém da nossa concepção de interpretação nos moldes contemporâneos. Época em que os escravos eram considerados mercadorias. Apenas. Baseado em documentos históricos, pesquisados pelo autor Lawrence Hill que com maestria abordou uma temática rica em detalhes e a transformou em realismo cruel e visceral. É possível sentir na pele – literalmente- a dor da protagonista Aminata Diallo.
Lawrence transporta o leitor para 1745, época marcada pela dor e pelas atrocidades causados pelos brancos sobre os negros e, utilizando-se da narrativa através da vida de Aminata Diallo, ainda criança, no qual seus relados começam em Bayo, exibindo como era a vida entre seu povo, como viviam, suas culturas, crenças e toda a forma de manter a cultura de sua época. Nessa época, sua mãe a parteira e seu pai era o joalheiro da aldeia. E Aminata, já tem habilidades surpreendentes que a transforma em uma garota de valor inestimável para sua família, seu povo.
Contudo, quando viajava com sua mãe para fazer mais um parto na aldeia vizinha, foi raptada por contrabandistas ingleses, que a amarram e a tratam como um animal selvagem. Daí para frente, Diallo se vê perdida e sozinha, e sua trajetória rumo a uma viagem sem volta para um caminho que até então era totalmente desconhecido por ela. Foi doloroso ler como os negros eram tratados naquela época.
“Se a mãe é escrava, então você é escravo. Se o pai é escravo, então você é escravo. Qualquer traço negro em você é escravo. É tão claro quanto à luz do dia”.
Sobretudo, a força de Aminata sobressai a cada relato por ela narrado nessa obra. Pessoas morreram, a fome, o frio e o cansaço derrubou muitos dos viajantes negros, como ela cita, muitos, todavia, ao olhar ao redor e reconhecer que não estava sozinha, que pessoas de sua aldeia estavam ali naquela jornada, a deixou aliviada e com esperança de sair daquele navio que as levariam ao outro lado do grande rio.
Inegavelmente, rebeliões foram feitas na chegada ao navio, onde negros foram duramente maltratados e jogados a pura sorte dos brancos. Porém, Aminata usou um pouco de seu conhecimento herdado por Mamadu Diallo, seu pai, o Joalheiro, que havia lhe ensinado a ler e a escrever. E tal façanha a beneficiou em manter viva a fim de ser vendida por pouco dinheiro, quando o navio que a transportava para Carolina do Sul. Ali na nova terra que pisara atravessando o grande mar, era mais conhecida como Meena.
Em toda a história de Aminata, o que a fez ser destaque entre os demais de seu povo, foi o fato de ela saber ler, justamente numa época em que mulher não poderia ter conhecimento da língua; ser totalmente submissa aos homens, principalmente quando se é uma escrava:
“Ler era como um sonho diurno em terra secreta. Ninguém além de mim sabia chegar lá, e ninguém além de mim era dono daquele lugar”.
O fato de saber que Aminata sabia ler, despertou curiosidade no seu senhor que a estuprou pelo fato de sentir ciúmes da belíssima negra trazida para suas terras. Sentiu medo, viu a morte em seu encalço e achou forças para superar esse trauma. Era mais forte ante a qualquer atrocidade causada a ela e seu povo, pois era mais inteligente do que qualquer outro negro e até mais do que muitos brancos. Encontrou homens de bem e paz. Ajudou homens e mulheres, aprendeu a ler e a escrever, e ainda ajudou seu Senhor a controlar as despesas da casa, tamanha era seu conhecimento e inteligência. Era uma mulher forte.
O Livro dos Negros vai além de qualquer obra de prestígio, portanto, ler um recorte de fatos que marcaram uma geração onde a história de humanidade, mais especificamente a história dos africanos, foi totalmente transformada após a escravidão dos negros e, como a história de muitos africanos foi reformulada com a atitude de Aminata e sua força de vontade em querer mudar o mundo com seu conhecimento.
Surpreendentemente, um dos fatos bem marcantes de O Livro dos Negros, foi saber que mesmo quando foi abolida, Aminata nunca se sentiu livre, pois a abolição foi apenas fachada para interesse entre nações:
“Os abolicionistas podem até me chamar de sua igual, mas seus lábios ainda não pronunciaram meu nome e seus ouvidos não ouvem minha história”.
O Livro dos Negros é uma obra que te transforma. Recomendo!
O Livro Dos Negros, conta a história de Aminata Diallo, uma das personagens femininas mais fortes e marcantes da ficção contemporânea. Aminata foi sequestrada, ainda criança, na África e vendida como escrava na Carolina do Sul. Após a Revolução Americana, ela foge para o Canadá e escapa da vida escrava para tentar uma nova história de liberdade.
O livro traz uma história que nenhum ouvinte e nenhum leitor esquecerão. O nome “O Livro dos Negros” se deu devido ao documento histórico, mantido por oficiais navais britânicos, ao fim da Revolução Americana. O documento oficializou os negros que serviram ao rei na guerra e fugiram para Manhattan, no Canadá, em 1783. Apenas os negros que estivessem no Livro dos Negros poderiam escapar e conseguir sua liberdade. Aminata Diallo percorre toda longa trajetória com a finalidade de conseguir entrar no LIVRO DOS NEGROS e conquistar sua liberdade.
A Obra marcante e inesquecível tornou-se uma minissérie de sucesso nos Estados Unidos, dirigida e escrita por CLEMENTE VIRGO (THE WIRE) e protagonizada pela atriz Aunjanne Ellis e Cuba Gooding Jr, vencedor do Oscar em 1996.
Com o sucesso do livro, a Rede Globo exibiu a minissérie americana “Meu Nome é Liberdade” (‘The Book of Negroes’, no original), produção canadense e sul-africana baseada no premiado romance de Lawrence Hill, no qual teve adaptação do livro que leva o mesmo nome e, no Brasil, “O Livro dos Negros”, publicado pela Primavera Editorial.
Fica a dica, leia e depois assista a minisérie para conferir a semelhança entre a literatura de Lawrence e o realismo na atuação na apadtação na TV (disponível no YouTube Premium).
DANIEL MORAES, escritor, editor, influencer, jornalista e assessor de imprensa e bookaholic assumido, criou o site Irmãos Livreiros onde mantem atualizado com as novidades do mercado editorial.
É autor do livro Bodas de Papel publicado pela Editora Rouxinol, e a convite da Lura Editorial foi curador das antologias O Canto dos Contos e Contos de Natal. Neste ano de 2019, assumiu a organização da antologia O Canto dos Contos – primavera e a nova antologia Contos de Natal.
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