Holocausto e Memória: um convite à reflexão sobre a preservação da memória e os riscos da simplificação histórica.
Em Holocausto e memória, Marcos Guterman, historiador publicado pela Editora Contexto, nos convida a uma reflexão profunda e necessária sobre a natureza da memória em face do horror inenarrável do Holocausto. Décadas após o fim da Segunda Guerra, o debate persiste: as memórias das vítimas são inteiramente confiáveis? Seus depoimentos podem ser fiéis à realidade, ou seriam coloridos pelo que lhes foi narrado ou sentido? O livro se aprofunda nesse embate: se a memória pode trair, quem sofreu tem, inegavelmente, o direito de lembrar.
Em primeiro lugar, a obra é uma jornada multifacetada que examina como o Holocausto foi retratado e lembrado em diversas esferas culturais e políticas. Guterman analisa os retratos criados pelo cinema, a literatura ficcional, os diários das vítimas e os diversos monumentos espalhados pelo mundo em homenagem aos milhões de mortos.
Primordialmente, o autor nos leva a questionar os limites humanos dos sobreviventes e a ética do julgamento, explorando o silêncio como a única linguagem possível para descrever o indescritível. O livro aborda a complexa relação do mundo com o Holocausto, o problema da simplificação histórica, a validade da ficção na narrativa do genocídio, o conceito das memórias roubadas, e a instrumentalização do Holocausto como discurso político, especialmente em Israel.
Marcos Guterman aborda a tentativa nazista de desumanização como um ato de aniquilação da memória e da subjetividade:
“Para os nazistas, transformar os judeus em animais era parte essencial do trabalho de construção da história daquele período, pois animais, por definição, não têm memória – ou seja, são incapazes de recordar eventos ou acontecimentos arbitrários, que não ocorram com frequência ou dentro de certa rotina. Sua memória se limita aquilo que lhes é fundamental para a sobrevivência imediata, e os animais, por óbvio, não têm consciência de si – que, grosso modo, é o locus da subjetividade, a manifestação do eu, que faz do indivíduo um ser capaz de refletir sobre si mesmo, seus valores e seus desejos.”
Nesse sentido, o autor dedica uma parte significativa da obra à representação do Holocausto no cinema, analisando diversos filmes e documentários sobre o nazismo, e como a tragédia foi levada às telonas. Um exemplo típico de sua análise é o filme “A Lista de Schindler”:
“No cinema, o horror pode ser incômodo, se apenas insinuado, ou didático, se for explícito. Mas afinal, em se tratando do Holocausto, o que se pretende é ensinar sobre esse horror, na esperança de não vê-lo repetir-se, ou causar desconforto ao espectador, convidando-o a pensar sobre si mesmo, e, por extensão, em toda a humanidade, diante da tragédia dos judeus europeus? No caso de A Lista de Schindler, a opção de Spielberg foi a de empregar o didatismo em sua forma mais primária, acrescentando a essa narrativa o mito do herói improvável, acidental, que nasce no ventre do inimigo – Schindler, de certa forma, vem redimir a humanidade, por ser, digamos, um alemão com traços humanos, malgrado usar o broche do Partido Nazista na lapela.”
Inegavelmente, gostei deste livro porque, como especialista em nazismo e antissemitismo, Marcos Guterman não se limita a contar a história, mas a problematiza. A obra é um exercício intelectual de extrema importância que nos força a confrontar o legado do Holocausto em nossa cultura e política atuais.
Holocausto e memória é indicado para estudantes e pesquisadores de História, por ser essencial para quem estuda a Segunda Guerra Mundial, o Holocausto, memória e historiografia, como também, para profissionais do cinema e da literatura, pois, oferece uma análise aprofundada sobre a representação de eventos traumáticos na arte.
Em suma, vale a pena ler Holocausto e memória, do historiador Marcos Guterman, porque é um livro vibrante, pungente e necessário. Ele confronta o leitor com a complexidade do luto coletivo e individual, e com a responsabilidade de manter viva a memória do maior crime contra a humanidade, garantindo que o embate entre história e trauma seja sempre um ponto de vigilância contra a repetição do horror.
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Décadas depois do fim da Segunda Guerra ainda se discute sobre o Holocausto. As memórias das vítimas são confiáveis? Seus depoimentos contam o que viram, o que sentiram ou o que lhes foi narrado? O horror sem limites pode ser narrado? Historiadores sabem que a memória trai, mas quem sofreu não tem o direito de lembrar?
Marcos Guterman, historiador e jornalista, nos leva a uma jornada que passa pelos retratos que o cinema criou, pela literatura ficcional, pelos diários, por vários monumentos espalhados ao redor do mundo em homenagem às vítimas.
Do embate entre História e Memória salta um livro vibrante, pungente, necessário.
Falar de um dos acontecimentos históricos que mais marcaram a humanidade no século XX é para deixar qualquer um desconfortável e revoltado ao mesmo tempo. Por isso, fica a sugestão para ouvir este programa se o assunto não lhe é um gatilho ou ponto sensível, pois não se trata de uma obra de ficção.
Neste episódio, a Rádio Caractere aborda o assunto sobre o livro Holocausto e Memória, escrito por Marcos Guterman, publicado pela Editora Contexto. Assista no YouTube:
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DANIEL MORAES, escritor, editor, influencer, jornalista e assessor de imprensa e bookaholic assumido, criou o site Irmãos Livreiros onde mantem atualizado com as novidades do mercado editorial.
É autor do livro Bodas de Papel publicado pela Editora Rouxinol, e a convite da Lura Editorial foi curador das antologias O Canto dos Contos e Contos de Natal. Neste ano de 2019, assumiu a organização da antologia O Canto dos Contos – primavera e a nova antologia Contos de Natal.











