Flores para Algernon, escrito por Daniel Keyes em 1959 em forma de conto e em 1966 como um romance epistolar, foi um sucesso de público e de crítica na época. Em 2018 a Editora Aleph, adquiriu os direitos para publicação. Uma feliz escolha da editora, pois se tornou um clássico da literatura norte-americana ao abordar assuntos pesados para a época: a deficiência intelectual.
Escrito em forma de diáriopelo protagonista Charlie Gordon, um homem de 32 anos, que trabalha em uma padaria e tem o sonho de ser inteligente, visto que foi diagnosticado com uma deficiência mental desde a nascença e, por ter seu QI muito baixo de 68%, Charlie se torna um adulto ingênuo para sua idade, sendo então alvo de chacotas que ele se diverte por não ter o discernimento do que é algo engraçado ou uma simples piada de mal gosto contra ele.
Em alguma das situações, o proprietário da padaria que o acolheu e lhe deu um emprego como parte da inclusão no tratamento psiquiátrico que ele faz, ralha com um de seus empregados que o tratam com desdém:
“Deixem-no em paz! Ele não consegue entender. Ele não consegue evitar ser quem é… mas, pelo amor de Deus, tenham algum respeito! Ele é um ser humano!”
No entanto, sua vontade de tornar-se uma pessoa inteligente, o faz ir além de que sua capacidade intelectual permite. E assim, Charlie Gordon, paciente do hospital psiquiátrico ao lado de Algernon (somente quem ler o livro saberá quem é esse personagem), por consequência, também está no processo de capacitação e estudo, se submete a uma cirurgia que promete aumentar seu QI. Desde então, mantém todas suas atividades e seu progresso ou regresso, dependo do dia, a fim de repassar ao Sr. Strauss e o professor Nemur, afinal, ambos acompanham de perto a evolução do tratamento revolucionário para a ciência, com o aumento do QI de um ser humano.
Inegavelmente, ao iniciar a leitura, os leitores irão se deparar com erros ortográficos e gramaticais nas primeiras páginas, porém, é proposital para que o leitor possa perceber a evolução de Charlie através de seu Relatório de Progresso, que totaliza dezessete relatórios, subentendendo serem capítulos, dado que o livro é totalmente narrado através da visão de Charles e a forma como ele vê o mundo à sua volta além dos acontecimentos do seu dia, ou seja, através dos textos que o personagem apresenta o avanço de sua mente ao longo das pesquisas que estão sendo feitas com o mesmo, após a cirurgia. Fascinante!
É perceptível ver o desenvolvimento do personagem adaptado à sociedade e o quão intelectual ele se tornará. A forma como ele passa a enxerga tudo ao seu redor; sentir as percepções e as nuances que ele havia perdido ao longo de muitos anos. Obviamente, uma das primeiras coisas que Charlie nota é a forma como as pessoas o enxergam antes mesmo de fazer a cirurgia, a forma como elas o tratava. As lembranças que veem à tona ao ver o tratamento de sua mãe com ele, a forma que ela o rejeitava por não querer um filho deficiente, e o desespero do pai ao tentar salvar o filho. Todas as memórias armazenadas, agora invade sua memória tal qual uma cachoeira. Por vezes o leitor se vê revoltado com a atitude de sua família que o rejeita de todas as formas e como o expõe ao ridículo. É revoltante, todavia, traz a realidade que muitos que a vivenciam.
Flores para Algernon emociona do início ao desfecho e nos últimos capítulos deixa o leitor aflito pelos acontecimentos que levam Charlie a tomar atitudes repentinas e espantosa. Nos faz refletir o que uma pessoa com deficiência intelectual tenta transmitir através do seu grau de intelectualidade. É simplesmente emocionante.
“O mundo não os quer, e eles logo aprendem isso.”
Recomendo. Leiam esse livro.
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Flores para Algernon, clássico da literatura americana, e um marco da ficção científica contemporânea, publicado pela Editora Aleph, está com preço promocional no site da Amazon:
Com excesso de erros no início do romance, os relatos de Charlie revelam sua condição limitada, consequência de uma grave deficiência intelectual, que ao menos o mantém protegido dentro de um “mundo” particular – indiferente às gozações dos colegas de trabalho e intocado por tragédias familiares. Porém, ao participar de uma cirurgia revolucionária que aumenta o seu QI, ele não apenas se torna mais inteligente que os próprios médicos que o operaram, como também vira testemunha de uma nova realidade: ácida, crua e problemática. Se o conhecimento é uma benção, Daniel Keyes constrói um personagem complexo e intrigante, que questiona essa sorte e reflete sobre suas relações sociais e a própria existência. E tudo isso ao lado de Algernon, seu rato de estimação e a primeira cobaia bem-sucedida no processo cirúrgico.
Perturbador e profundo, Flores para Algernon é tão contemporâneo quanto na época de sua primeira publicação, debatendo visões de mundo, relações interpessoais e, claro, a percepção sobre nós mesmos. Assim, se você está preparado para explorar as realidades de Charlie Gordon, também é a chance para perguntar: afinal, o mundo que sempre percebemos a nossa volta realmente existe?
Flores para Algernon foi adaptado para os cinemas em 1968 e rendeu a Cliff Roberson o Oscar de Melhor Ator.
Confira a trailer do filme “Os dois mundos de Charlie”, inspirado na obra de Daniel Keyes:
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É autor do livro Bodas de Papel publicado pela Editora Rouxinol, e a convite da Lura Editorial foi curador das antologias O Canto dos Contos e Contos de Natal. Neste ano de 2019, assumiu a organização da antologia O Canto dos Contos – primavera e a nova antologia Contos de Natal.