Desonra, premiada obra de J.M. Coetzee, publicado pela Companhia das Letras, em edição comemorativa dos 25 anos do Prêmio Nobel de Literatura, traz em sua narrativa um tanto quanto sensível ao tratar de assuntos pesados que envolve abuso e estupro, e seus desdobramentos.

O romance abre com um impacto em sua narrativa: o retrato da vida medíocre de David Lurie, um professor sem grandes perspectivas, porém, sente-se feliz por se encontrar semanalmente com uma prostituta. No entanto, quando ela não lhe serve mais para acalentar seus desejos, o professor inicia um relacionamento brutal que é visto como práticas de assédio com uma aluna trinta anos mais jovem, ele com 52 anos, ela 20, vindo a desencadear um processo moral na universidade onde ele leciona.

A leitura forte e impactante por suas nuances que vão do romance entre um professor e uma aluna às práticas de estupro, mesmo que, autorizados por sua aluna, por se tratar de uma jovem que não conhece de fato a arte do sexo, e se vê apegada ao mestre que lhe ensina em sala de aula ao homem que lhe tem na cama, mesmo que na forma mais brutal.

O que impacta na obra, não é apenas a forma a prática do sexo, mas sim, a forma como ela era forçada a fazer em muitas das vezes, entender que isso é natural, pois não se enxerga com o direito de denunciar. Sem dúvidas, há muitas mulheres que sentem assim da mesma forma: com medo de denunciar.

Exonerado do cargo, o professor David Lurie decide ir morar no campo com a filha, quer por sinal é lésbica e ironicamente, em um assalto à casa, sua filha é estuprada pelos assaltantes.

Inegavelmente, é um livro que traz desconforto em sua narrativa, por tratar de temas tão profundos e machistas a ponto de incomodar os leitores e, acredito que as mulheres também sentiram-se totalmente ofendidas pelo olhar do professor que viu na figura desse homem, uma pessoa que pratica esses atos sem ao menos valorizar a figura feminina.

Desonra é um livro delicado e nem todos irão se identificar com a narrativa que descreve o poder exacerbado que os homens exercem sobre mulheres, embora, tem um desfecho louvável, senão, reflexivo, pois o autor J.M. Coetzee, fala de machismo na sua forma mais cruel e dolorosa.

A seguir um parágrafo que define o estupro e o autoritarismo masculino sobre as mulheres. É pesado, ressalto, mas é necessário entender a tratativa:

“Quando se trata de homem e sexo, David, nada mais me surpreende. Talvez, para os homens, odiar uma mulher faça o sexo ficar mais excitante. Você é homem, deve saber. Quando faz sexo com uma estranha, quando encurrala, prende, submete, coloca todo seu peso em cima dela, não é um pouco como assassinar? Enviar uma faca; excitante depois, deixar o corpo coberto de sangue, não dá a sensação de assassinato, de conseguir se safar de um assassinato?”

Conheça Desonra, publicado pela Companhia das Letras, obra sensível por tratar de assuntos delicados que envolve abuso e estupro, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura:

Desonra

Ambientado na África do Sul pós-apartheid, Desonra é um romance de formação às avessas.

Seu protagonista, David Lurie, é um esteta dedicado à fruição dos grandes livros e da música erudita. Professor de literatura desencantado com a massificação cultural, rodeado de estudantes pouco interessados, não lhe resta senão entregar-se à inércia do emprego na Universidade da Cidade do Cabo. Até que um caso amoroso com uma aluna acaba fazendo-o cair em desgraça, abatido pelos mandamentos implacáveis do politicamente correto. Lurie traça o caminho da própria perdição com cínica lucidez quando se vê repentinamente obrigado a defender a honra de sua única filha, que vive numa fazenda isolada no interior do país.

Com uma prosa econômica, permeada pela ironia repleta de alusões históricas e literárias que caracteriza o melhor de sua ficção, J.M. Coetzee converte o romance da decadência de David Lurie numa perturbadora alegoria das desigualdades que continuaram a dilacerar a África do Sul após o colapso do regime racista.

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