As boas famílias e os outros: as elites de São Paulo e a Greve Geral de 1917, um olhar inédito sobre um marco histórico

Em As boas famílias e os outros, José Roberto Walker nos oferece uma perspectiva fundamental e muitas vezes negligenciada sobre um dos momentos cruciais da história do Brasil. Ao invés de focar exclusivamente nos operários e suas lutas durante a histórica paralisação que sacudiu São Paulo por sete dias, o autor direciona sua lente investigativa para as reações, os pensamentos e o papel desempenhado pelas diversas camadas da elite paulistana diante desse surpreendente movimento popular.

Em primeiro lugar, é comum que a Greve Geral de 1917 evoque imagens da classe trabalhadora e suas reivindicações. No entanto, a obra preenche uma lacuna significativa ao explorar como esse evento, com suas implicações sociais e políticas profundas, foi percebido e enfrentado pelos diferentes grupos sociais que compunham a elite da época. Por meio de uma rica documentação da imprensa e de outras fontes primárias, o autor nos transporta para o início do século XX, desvendando as nuances das reações das “boas famílias” paulistanas.

“Grupo social hegemônico que, com o advento da República, se tornou dominante no Brasil e que manteve até 1930 as rédeas do poder, eliminando os antagonistas e se reproduzindo quase sem mudanças, de modo a constituir uma verdadeira oligarquia. Essa seria a elite do café, que dominou São Paulo a partir das últimas décadas do Império.”

A princípio, o autor questiona o que disseram os jornais da época, quais eram as preocupações e os julgamentos das elites, e de que maneira suas ações e omissões influenciaram o curso dos acontecimentos. O livro também retrocede ao final do século XIX, buscando as raízes e os fatores que pavimentaram o caminho para o estopim da greve, oferecendo um panorama histórico mais amplo e contextualizado.

Nesse meio tempo, ao iluminar o papel das elites, a obra não apenas enriquece nossa compreensão da Greve Geral de 1917, mas também lança luz sobre a estrutura social da São Paulo da época, as relações de poder e as ideologias que moldavam as percepções e as ações dos diferentes grupos. Walker nos convida a ir além da visão tradicional, compreendendo a complexidade de um evento que ecoa até os dias atuais na formação social e política do país.

“Naquele ano de 1917, as elites paulistas, protagonistas e herdeiras do grande fluxo de desenvolvimento de São Paulo, iniciado na segunda metade no século anterior, se viram em face de uma situação inteiramente nova, que se por um lado testou a sua capacidade de compreensão das mudanças acumuladas nas décadas anteriores, por outro as colocou frente a um mundo completamente novo, com desafios ainda desconhecidos.”

As boas famílias e os outros

O que mais me chamou a atenção em As boas famílias e os outros, foi a perspectiva inovadora, aonde o foco nas reações da elite a um movimento operário oferece uma nova e essencial camada de entendimento sobre o evento, bem como a rica documentação em que a obra se sustenta por meio de uma ampla pesquisa de fontes da época, conferindo rigor e profundidade à análise.

Da mesma forma, a contextualização histórica, tal qual a análise das raízes da greve no final do século XIX proporciona uma compreensão mais completa do cenário. De maneira idêntica, a relevância para a história social brasileira, aonde o livro contribui significativamente para a compreensão das dinâmicas de classe e do papel das elites em momentos de crise social. 

Dessa forma, esta obra é indicada para estudiosos e interessados em história do Brasil, especialmente do período da Primeira República e do movimento operário, bem como para pesquisadores em ciências sociais, sociologia e antropologia urbana e também para leitores que buscam uma compreensão mais aprofundada das dinâmicas sociais e políticas da história brasileira.

Em suma, As boas famílias e os outros, é uma obra fundamental que nos convida a repensar a Greve Geral de 1917 a partir de um ângulo inédito. Com rigor acadêmico e uma narrativa envolvente, José Roberto Walker oferece uma contribuição valiosa para a historiografia brasileira, enriquecendo nossa compreensão de um evento que moldou a cidade de São Paulo e o país em sua totalidade.

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As boas famílias e os outros

Em 1917, São Paulo parou por sete dias.

Operários das indústrias paulistanas entraram em greve e deram início a um movimento popular que muito nos diz sobre a cidade e o país naquele início de século.

É automático que voltemos nosso foco aos trabalhadores e suas lutas. Mas como reagiram os diferentes grupos sociais da sociedade paulista a esse evento com implicações tão surpreendentes? O que disseram os jornais a respeito? O que pensavam as elites e que papel desempenhavam? E de que forma os acontecimentos do final do século XIX contribuíram para o estopim da greve?

Com ampla documentação da época, esta obra responde a essas e outras perguntas cruciais para o entendimento desse relevante momento da história do nosso país.

Em 1917, São Paulo parou por sete dias. Operários das indústrias paulistanas entraram em greve e deram início a um movimento popular que muito nos diz sobre a cidade e o país.

No livro As boas famílias e os outros, o historiador José Roberto Walker nos guia por uma rica análise da greve operária de 1917, baseada em extensa documentação. Baseando-se em jornais da época, ele responde a questões fundamentais para entender como diferentes grupos da sociedade paulista, das elites aos trabalhadores, reagiram ao movimento e às suas consequências.

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Fundador do Portal Irmãos Livreiros

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