Recebemos, em forma de cortesia, os livros “Nove”, “Espectros”, “Ócio” e Humanos”, do autor Mauro Felippe. As edições estão belíssimas e repletas de ilustrações que compõem as obras como um todo. Sem mais delongas, vamos às resenhas:
Os livros do Mauro Felippe nos encantam a cada página, ou melhor, a cada poesia, pois cada uma é escrita com esmero e profundidade em seus versos. As ilustrações que compõem a obra tornam a leitura convidativa e enchem os olhos de quem lê, pois o abuso de cores e elementos visuais permite continuar o texto de modo frenético, sem intenção de parar.
Em “Nove”, seu primeiro livro, Mauro Felippe nos traz um olhar mais jovem e intimista, que remete à infância e juventude do autor. Em relação a esta última, é possível se encantar com a evolução do amor ainda na adolescência em contraste com os desamores da vida adulta, contraposição necessária para que sua primeira obra se destacasse.
O diferencial destas obras são as participações especiais dos filhos do poeta, Anne e Gabriel Felippe, além das ilustrações de ambos. Deixo aqui uma reflexão de Mauro Felippe contida em “Nove”:
“Segredo. Uma palavra unilateral, subjetiva, única, pessoal. Ao contares um segredo para alguém, seja quem for, sua essência acabou”
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Em “Espectros” é possível ver o amadurecimento do autor em suas poesias e como ele chega sorrateiramente em nossas mãos, por meio de suas palavras, neste livro que está repleto de cores e ilustrações. Estas, de certo modo, nos encantam e provocam reações adversas, pela junção do que é escrito à imagem, refletida ao lado do poema.
“Espectros” é prefaciado pelo psicólogo, escritor e professor Adroaldo Bittencourt e pela poetisa Anna Zin Pilotto, além de trazer ilustrações de Rael Dionísio. Abaixo incluo uma poesia que me encantou dentre tantas outras que compõem a obra:
Serenata
Anoiteceu
Lá vem a serenata
Venham aqui, corram aqui
Venham ver a sonora passeata.
Tantos emotivos acordes
Tantos corações sacolejando
Nesta hora, nas janelas
Os timbres vão entrando.
Justamente, é neste instante
Que o coração se derrete e…
Entrega-se o amor.
… a cantoria – ao cantador.
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“Ócio”, terceiro livro de Mauro Felippe, reúne textos soltos, reflexivos e um tanto quanto intimistas que permitem a leitura livre, sem a sequência de leitura obrigatória. Portanto, é palpável a dinâmica entre os textos do poeta, que insiste na provocação de suas poesias, como nas obras anteriores. “Ócio” vem recheado de ilustrações ricas em cores e convidativas ao leitor.
Em “Ócio”, Rael Dionísio assumiu toda a composição visual e, atrelado aos textos, deu vida aos versos de cada poesia do mestre Mauro Felippe. O prefácio ficou a encargo de Fernando Jorge, membro do Conselho de Ética do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo.
É válido enfatizar a emocionante homenagem de Mauro Felippe a seu pai, no início do livro. A mensagem do poeta é especial e de se encher os olhos. Deixo aqui para vocês conferirem:
“Meu Herói escapuliu das minhas mãos e deixou um lastro de amor, exemplos, retidão, força e fé. Não te esqueça, Pai, que juntamente de minha mãe, foste e sempre serás objeto das minhas orações e inspirações”
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No último livro “Humanos”, que em modéstia parte, tem a capa mais icônica de minha estante, Mauro Felippe nos faz refletir sobre um futuro pós apocalítico ou poderá ser o presente e como nós interagimos ao nosso redor e com aqueles com quem nos encontramos. Ainda com uma intuição provocativa e bem latente, o poeta traz textos que provoca em nós, leitores a realidade de nossa vida contemporânea. É o conjunto de todos as poesias dos demais livros sendo elevadas junto com o crescimento na escrita do poeta. Um livro que nos instiga a querer refletir após horas de leituras assíduas.
Mais uma vez, Rael Dionísio dá vida à poesia de Mauro Felippe e instiga o leitor a degustar cada verso que compõe a obra, que através de várias, separei uma em questão que nos traz uma triste realidade e diz exatamente a crueldade do ser humano:
Rhino, o jovem rinoceronte
Ainda sou muito jovem para morrer
Enxergo os humanos como meus grandes amigos
Sustentam-me, forçam-me a crescer
Cativam-me em confortáveis abrigos.
Hábito na África, cercado de suspense
Certos homens chegam e silenciosos logo partem
Sempre com a mesma coisa – cenário circense
Tenho medo que estes um dia me cacem.
Meu pequeno chifre já fora observado
Ouvi dizer que no futuro terei grande valor
A puberdade me fará ainda mais admirado
Certa vez, doparam-me para eu não sentir dor.
Não acreditaria ser traficado por quem me guarda
Nem mesmo ouvi falar em eventual ostentação
Até porque o nome da minha espécie a ninguém agrada
Sei que os humanos jamais contribuíram à nossa extinção.
− Por que quereriam queratina?
Meu chifre não tem osso, nem ouro, nem vale propina
É apenas um emaranhado de proteína
Reluto não acreditar que os humanos são de uma espécie assassina.
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DANIEL MORAES, escritor, editor, influencer, jornalista e assessor de imprensa e bookaholic assumido, criou o site Irmãos Livreiros onde mantem atualizado com as novidades do mercado editorial.
É autor do livro Bodas de Papel publicado pela Editora Rouxinol, e a convite da Lura Editorial foi curador das antologias O Canto dos Contos e Contos de Natal. Neste ano de 2019, assumiu a organização da antologia O Canto dos Contos – primavera e a nova antologia Contos de Natal.